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[ horas ]

São vinte e três horas e vinte e dois minutos.
Não chove.
O cão parou de comer grama
(dor de barriga, dizem),
está mais magro
mais preto que os olhos fundos
de onde solta uma lágrima
– gota-alimento da relva que devora –
fina, crua e límpida. Cristal líquido.
Não sabe que doer barriga é menos
que ter a goela dos dedos travada.
São vinte e três horas e trinta e três minutos.
Hora do antibiótico, da ração e da assinatura.

S. H. Brincher


By Sandro Brincher

Eu sou aquele que, de fones nos ouvidos, através da janela empoeirada do ônibus, perscruta os paralelepípedos irregulares da calçada de um parque à procura de alguém que tenha, ao resgatar do fundo das algibeiras um maço de cigarros molhados pela chuva que acaba de dar trégua, derrubado um bilhete premiado de loteria.

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