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[ esverniana I ]

Não há surpresa alguma: o mesmo vento que nos viu,
o mesmo barro que nos untou,
a mesma luz que, míope, distante, nos fez vultos,
o mesmo fogo que, de algum lugar lá dentro,
explodiu-nos a sintaxe da língua-músculo,
enroscando dizeres,
impelindo-nos a não perder um só movimento,
uma só sílaba,
um só suspiro,
é esse conjunto mesmo de objetos avessos à forma
– sopro, lume, lodo, ar|dor –
a síntese do ruído que rasga o peito:
e dura?

By Sandro Brincher

Eu sou aquele que, de fones nos ouvidos, através da janela empoeirada do ônibus, perscruta os paralelepípedos irregulares da calçada de um parque à procura de alguém que tenha, ao resgatar do fundo das algibeiras um maço de cigarros molhados pela chuva que acaba de dar trégua, derrubado um bilhete premiado de loteria.

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