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[ sms ]

ta na obra? vc levou comida e tudo, que mais vc precisa? te espero no pto na mesma hr. guardei doce p ti“.

Não queria ter visto, mas a mulher digitava sua mensagem com o celular na altura dos meus olhos. Hesitava na escolha das palavras, apagava, refazia, fazia círculos com o polegar sobre o teclado. Enquanto estive naquele ônibus, confortou-me saber que em algum lugar da cidade, àquele exato momento, ele enxugaria o suor do rosto, afastaria as mãos da betoneira e em segundos sua vida se encheria de sentido: nesta noite haverá doce, um guarda-chuva e um coração que espera.

By Sandro Brincher

Eu sou aquele que, de fones nos ouvidos, através da janela empoeirada do ônibus, perscruta os paralelepípedos irregulares da calçada de um parque à procura de alguém que tenha, ao resgatar do fundo das algibeiras um maço de cigarros molhados pela chuva que acaba de dar trégua, derrubado um bilhete premiado de loteria.

2 replies on “[ sms ]”

Desde que li me intriga… e se fosse o engenheiro? O arquiteto, talvez. Ou o dono vistoriando! Alguns diriam preconceito de classe…
Mas, entre ficção e realidade, fico, muitas vezes, com a primeira.

Não sei se entendi o ponto, mas se fosse qualquer um desses três, acho que não levaria marmita pra obra e nem voltaria de ônibus pra casa, pelo menos não nas dezenas de obras nas quais já trabalhei (como téc. em seg. do trabalho). Teria que ser outra história, outros elementos.
Com relação ao dilema ficção/realidade, também fico na primeira sempre!

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