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O melhor ano da minha vida OU História de (alg)uma(s) carona(s)

Nota: eu achei que tinha publicado esse texto no fim do ano passado, mas minha postagem programada não funcionou e só me dei conta disso agora. Aí vai, com atraso mesmo, porque 2014 mereceu.

"Hitchhiking near Vicksburg, Mississippi in 1936", fotografia de Walker Evans
“Hitchhiking near Vicksburg, Mississippi in 1936”, fotografia de Walker Evans

Segundo meu “Livro de caronas” [um caderninho no qual eu anoto algo sobre as pessoas a quem dou carona], em 2014 eu recolhi pessoas de 12 países [Argentina, Uruguay, Equador, Angola, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Inglaterra, Portugal, Austrália, Espanha e República Tcheca] e de 10 estados brasileiros [RS, SC, PR, SP, MG, GO, BA, AP, MS, MT]. No total, foram 76 pessoas diferentes. Entre elas, algumas eu levei mais de uma vez.

O caso mais curioso é o de um cara que mora na Fortaleza da Barra [definitivamente o grande destino dos que embarcam comigo] a quem eu já dei carona 12 vezes só neste ano. Numa quinta-feira, saindo duma reunião pedagógica, as nuvens resolveram drenar seu conteúdo e jogaram tudo aqui pra baixo. Eu tava quase sem visibilidade e um carro na contramão me fez encostar bem na calçada pra escapar da colisão, aí o farol iluminou o ponto de ônibus uns 10 metros adiante. A figura me pareceu familiar. Parei o carro no ponto e o reconheci. “E aí, véio, queres carona?”. Ele só não chorou porque não deixei.

– Poooooorra, irmão! Eu tenho a impressão de que se eu levantar as mãos pro céu e pedir ajuda em qualquer lugar, tu aparece logo em seguida!
– Esse teu deus é bem zoeiro, mandou logo um ateu, hahaha.
– Ah, ele tem seus métodos, né? hahahaha. Cara, tô bebaço, sem grana e ainda dei um topaço numa pedra antes de a chuva começar. Sentei no ponto, olhei pro chão e achei 5 reais. Não deu 1 minuto, tu apareceu. Isso não é um sinal divino?
– Olha… eu tenderia a achar que é apenas sorte pra caralho. Eu também sou um cara de muita sorte, o que é perigoso, porque me faz confiar apenas nela em alguns momentos.
– Ah, se eu dependesse da minha sorte… tava frito, irmão.
– Não é o que eu tô vendo. Quem sabe tu começa a acreditar que esse é o ano em que ela vai mudar.
– Deus te ouça, deus te ouça, mesmo tu não acreditando nele, hahahaha.
– Amém! Hahahaha.
– Se não for pedir demais, bota aquele ska maneiro que tavas ouvindo o outro dia.
– É pra já!

Coincidência ou não, este foi um ano também para mim de muitas mudanças. Nem todas foram pacíficas, benéficas ou prazerosas. Por outro lado, aconteceram tantas coisas boas, pequenas coisas, que não há como não me sentir tentado a achar que este foi o melhor ano da minha vida. Já houve tantos outros melhores anos da minha vida que eu poderia fazer uma modesta coletânea deles. O que torna este em específico muito bom, entretanto, é certamente a forma pela qual aprendi a olhar o mundo. Sentado aqui na varanda de casa, a Midi no puff ao meu lado, a bicicleta azul ali estacionada, meu violão sempre solidário com minha melancolia, as bananeiras carregadas e a chuvinha caindo de leve, não posso deixar de pensar nisso com gratidão. Não sou grato a nenhuma força superior, nenhum ser divino, nenhum esoterismo. Sou grato às coisas como elas são, sem etiquetas, sem position papers, sem teses ou dissertações. Sou intransitivamente grato. Tenho todos os motivos para isso e faço questão de materializar esse reconhecimento na escrita. E obrigado pela leitura.

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Cotidiano Textos

Essenciais e imperdíveis

A historinha de hoje é sobre um rapaz que queria, mas não podia.

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Aproveitando a mega promoção de fim de ano da Cosac Naify, o cidadão faz aquela lista dos sonhos, só pra sentir como é ter um ZoeiraCard [sem limites]. Depois de selecionar só os “essenciais” e os “imperdíveis”, adiciona o CEP [só pra saber quanto ficaria tudo com o frete]. Olha para a cifra astronômica, para a lista mais maravilhosa da Terra [faltou só “O vermelho e o negro” (Stendhal), fora da promoção] e para o saldo bancário. Reflete um pouco sobre sociedade de consumo, ostentação bibliófila e vida simples, dá um suspiro, clica em cancelar e diz [com convicção duvidosa]:

Eu nem precisava deles mesmo.

Uma lágrima, furtiva e densa, escorre em seu rosto enquanto se dirige à estante cheia de livros ainda não lidos. É um vencedor, embora não acredite.

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Cotidiano

Pedofolia, carnaval e radicais

Me pedem sugestão para o nome dum baile de carnaval infantil, sugiro Pedofolia, aí me esculacham impiedosamente. Francamente, tá cada vez mais difícil viver num mundo no qual as pessoas não manjam dos radicais gregos.

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