Categories
Cotidiano Textos

Niilismo para crianças (em lições simples e fáceis de entender)

Diálogo presenciado ontem entre um pai e sua filha, de uns 7 anos, numa sorveteria:

– Mas tu acha justo, filha, eu ficar assando a carne por horas e depois ter que ajudar a lavar a louça ainda?
– Mas ela também trabalhou antes de assar a carne.
– Olha, tem muita coisa de desigualdade ainda porque é uma coisa histórica. As mulheres não tinham acesso à educação, aí foram ficando sempre com os trabalhos que pagavam menos. Mas esse negócio de o homem ficar assando a carne e a mulher lavando a louça é diferente. Isso é muito mais biológico do que cultural.
– Biológico??? [ela realmente se espantou]
– Sim. É só ver o que acontece na natureza.

Nesse momento, fiquei imaginando uma esquilinha [perdoem o neologismo] lavando as nozes que compraram no Macro [na promoção] enquanto o esquilinho coloca fogo no carvão para começar o churrasquinho. Me ajudou a entender melhor a proposição do nobre papai.

– E te digo mais, filha. Todo mundo tem opiniões diferentes, mas o que é errado é a gente ser niilista com as nossas opiniões. Sabe o que é niilista?
– Não sei.
– É extremista. Não pode ser extremista, achar que só o que a gente pensa é que está certo.

Ela estava visivelmente pouco convencida pelas palavras do pai e seguiu firme em seu sorvete. Já eu, mera testemunha, fui embora meio descrente no tal “progresso nas relações de gênero” do qual se tem falado tanto, mas absolutamente firme na minha ideia niilista [ou seja, extremista] de que o certo mesmo é não fazer churrasco de jeito nenhum.
‪#‎GoVegan‬

Categories
Cotidiano Textos

Sobre o Dia das Mulheres: digo nada

CarOs amigOs,
Ontem à tarde, depois de um dia muito trabalhoso, resolvi escrever algumas coisas a respeito do Dia da Mulher e de como não há muito pra se “comemorar” nessa data [há muito, óbvio, para se discutir e sobre o que agir]. Digitei “Mulher no Brasil” no Google e cliquei em “Imagens” buscando algum infográfico, alguma tabela, alguma coisa que ilustrasse de forma objetiva algumas coisas sobre as quais eu queria falar. O resultado foi esse aí embaixo. Aí eu fiz aquilo que de mais prático – mas intelectualmente menos corajoso – eu poderia fazer: resolvi me calar. “Quem sou eu para falar sobre isso? O que eu entendo disso? Os livros que li, as discussões acadêmicas de que participei, as situações que presenciei, isso me autoriza a dizer alguma coisa?”. Sendo assim, não vou dizer nada, absolutamente nada, sobre isso. Façam de conta que não leram nada disto aqui, que não viram esta imagem, que sim, há o que se comemorar, aí passem no shopping, peguem aquela flor que vocês vão ganhar depois de consumir X reais em compras e entreguem às mulheres que amam ou admiram. Mas só a elas, por favor. Nada de entregar às outras, as que vocês não conhecem, as que se vestem de jeito estranho, as que não se dão o valor, as que beijam outras mulheres, as que são feias, as que não se vestem com decência, as que não se depilam, as que ganham a vida com fornicação, as que não acham a maternidade a máxima realização feminina, as que apoiam o aborto (porque, como todos sabemos, quem manda no corpo delas é o Estado),as que insistem em querer invadir espaços que são dos homens por direito (divino, eu ia dizer, mas pareceria que estou ironizando…), enfim, a essas que pensam ou se comportam de forma diferente daquelas mulheres que a tua educação [imune a qualquer discriminação de gênero, credo ou etnia] entende como dignas de homenagem. Entrega a florzinha, olha bem nos olhos dela e diz “Feliz Dia das Mulheres”. Mas, veja bem, não precisa dizer que não é de todas. Só que faz isso logo porque daqui a pouco começa o futebol.
Abraço.

"Mulher no Brasil", primeiros resultados de uma pesquisa no Google Imagens
“Mulher no Brasil”, primeiros resultados de uma pesquisa no Google Imagens